ROBERTO MONTEIRO PINHO
O jornalismo verdade não pode recuar diante da imprensa militante e manipuladora
A
Constituição Federal (1988) garantiu a liberdade de imprensa, a livre
manifestação intelectual, artística, científica e de comunicação, além de ser
assegurado a todos o acesso à informação. Entretanto, nem sempre foi assim.
Nos
regimes autoritários brasileiros, como o Estado Novo (1937 a 1945) e Ditadura
Militar (1964-1985), os veículos de comunicação estiveram sob intensa censura.
O governo tinha total controle da imprensa, de publicações jornalísticas e de
atividades artísticas. Havia censores dentro das redações fiscalizando o que os
jornalistas escreviam. Os profissionais que não cumprissem suas normas ditatoriais
sofriam severas punições, previstas em lei, como, por exemplo, na Lei de
Imprensa, criada em 1967. Alem da censura houve inúmeros casos de jornalistas
desaparecidos ou mortos pelo regime ditatorial.
Ocorreu
que a Lei de Imprensa continuou existindo mesmo após o fim da Ditadura Militar.
Ela foi extirpada quando O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a lei
incompatível com a Constituição em 2009, isso mais de 20 anos após o fim do
governo autoritário.
O jornalismo,
no seu amplo conceito, é uma forma de apurar e esclarecer os fatos ocorridos e
contribuir com a sociedade. A transparência e o compromisso com a verdade é singular
para quem escreve matérias e notícias. Em anos eleitorais, esse papel se torna
ainda mais relevante.
A pandemia...
O papel da imprensa no Estado Democrático de Direito, vem atuando em
momentos mais desafiadores para a humanidade, com uma pandemia que já dura
quase dois anos. Em decorrência do surto da Covid-19 temos milhares de mortes
de pessoas, outras com seqüelas, caos no sistema de saúde pública e particular
do país, crise econômica, desemprego e muitas incertezas.
O cenário é para comprometimento com a importância de uma imprensa
séria, alienada com o interesse público e, principalmente, livre. No Brasil, a
discussão se torna ainda mais relevante, principalmente no contexto atual em
que a imprensa é criticada diariamente por governantes e parte da sociedade.
A discussão precoce da sucessão presidencial trouxe para este cenário inóspito
de pandemia, um ingrediente que em nada contribuir para arrefecer a dor de
milhões de brasileiros.
Enquanto
profissionais da imprensa são hostilizados, perseguidos, agredidos fisicamente,
verbalmente ou virtualmente, e que a bem da verdade são atos praticados por militância
política contratada por partidos e coletivos, cujo objetivo serve apenas aos interesses
da classe política da nação.
O
jornalismo conquistou, e por isso é por excelência, denominado de quarto poder,
inclusive com a função de fiscalizar e denunciar problemas referentes aos outros
três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Essa característica da imprensa
embasa o processo democrático, por essa razão o jornalismo precisa ser exercido
com imparcialidade, apartidarismo e transparência. É fato que a função de
fiscalizar, refletir e colocar em debate as questões da sociedade, de interesse
social e coletivo, por vezes pode incomodar principalmente aqueles que estão no
poder. Onde há poder, flui a tentativa de calar a imprensa. Isso ocorre independentemente
de ideologia ou partido político.
Advento das redes sociais...
Hoje navegamos na revolução digital, democratização da
internet e o surgimento das redes sociais que fizeram com que a sociedade,
através smartphones, se tornasse gerador de conteúdo. São milhões de informações,
textos de opinativos vindas dos quatro cantos do mundo.
Isso
mudou e impactou diretamente a atividade jornalística em sua essência. São
textos corrosivos, tendenciosos, em meio a postagens interessantes,
informativas, a exemplo dos grupos de whatsApp que atuam em corrente de grupos,
alertando sobre a violência, a mobilidade urbana e os fatos políticos e decisões
dos tribunais e legislativo e executivo. Em suma: nada mais se esconde na
sombra do biombo do Poder.
Segmento
ativistas, voltados à pregação dogmática, alimenta uma indústria do ódio,
despejando milhares de fake news. Por outro lado o jornalista passou a não ser
mais aquele detentor exclusivo da notícia. E caso não tenha um linha própria de
escrever e informar, passou a ser apenas um coadjuvante no processo de
comunicação. Entre o que é falso ou real, existe um hiato que por mais que se
investigue a informação, nem sempre conseguimos detectar a verdade ou mentira.
Penso que é o momento de investir no jornalismo tradicional, cujo
formato está à margem do denominados “âncoras” de tele noticias, contratados
por emissoras de jornalismo tendenciosas, excludentes e ardilosas, uma indústria
da desinformação, com o intuito de manipulação, para servir apenas a um senhor-
o político.
Temos que dar importância da imprensa para a coletividade, uma vez que o
jornalista deve sempre perseguir a verdade, revelar os fatos de interesse
público, fornecer contrapontos para que os cidadãos possam analisar e formar
opiniões. Nosso papel como profissional é confrontar, ouvir todos os lados, com
ética, profissionalismo e exatidão, sempre. A sociedade precisa do jornalismo e
a democracia, também. Um jornalismo presente, crítico, profundo. Sem imprensa
livre e análise crítica, vamos nos perder na ignorância e na desinformação,
muitas vezes, propositalmente produzida, com objetivos escusos.
Núcleo: ANIBRPress/Por: Roberto Monteiro Pinho – Jornalista e
escritor/Imagem: Internet