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sábado, 25 de dezembro de 2021

 ROBERTO MONTEIRO PINHO

O jornalismo verdade não pode recuar diante da imprensa militante e manipuladora

A Constituição Federal (1988) garantiu a liberdade de imprensa, a livre manifestação intelectual, artística, científica e de comunicação, além de ser assegurado a todos o acesso à informação. Entretanto, nem sempre foi assim.

 

Nos regimes autoritários brasileiros, como o Estado Novo (1937 a 1945) e Ditadura Militar (1964-1985), os veículos de comunicação estiveram sob intensa censura. O governo tinha total controle da imprensa, de publicações jornalísticas e de atividades artísticas. Havia censores dentro das redações fiscalizando o que os jornalistas escreviam. Os profissionais que não cumprissem suas normas ditatoriais sofriam severas punições, previstas em lei, como, por exemplo, na Lei de Imprensa, criada em 1967. Alem da censura houve inúmeros casos de jornalistas desaparecidos ou mortos pelo regime ditatorial.

 

Ocorreu que a Lei de Imprensa continuou existindo mesmo após o fim da Ditadura Militar. Ela foi extirpada quando O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a lei incompatível com a Constituição em 2009, isso mais de 20 anos após o fim do governo autoritário.

 

O jornalismo, no seu amplo conceito, é uma forma de apurar e esclarecer os fatos ocorridos e contribuir com a sociedade. A transparência e o compromisso com a verdade é singular para quem escreve matérias e notícias. Em anos eleitorais, esse papel se torna ainda mais relevante.

A pandemia...

O papel da imprensa no Estado Democrático de Direito, vem atuando em momentos mais desafiadores para a humanidade, com uma pandemia que já dura quase dois anos. Em decorrência do surto da Covid-19 temos milhares de mortes de pessoas, outras com seqüelas, caos no sistema de saúde pública e particular do país, crise econômica, desemprego e muitas incertezas.

O cenário é para comprometimento com a importância de uma imprensa séria, alienada com o interesse público e, principalmente, livre. No Brasil, a discussão se torna ainda mais relevante, principalmente no contexto atual em que a imprensa é criticada diariamente por governantes e parte da sociedade. A discussão precoce da sucessão presidencial trouxe para este cenário inóspito de pandemia, um ingrediente que em nada contribuir para arrefecer a dor de milhões de brasileiros.

Enquanto profissionais da imprensa são hostilizados, perseguidos, agredidos fisicamente, verbalmente ou virtualmente, e que a bem da verdade são atos praticados por militância política contratada por partidos e coletivos, cujo objetivo serve apenas aos interesses da classe política da nação.

 

O jornalismo conquistou, e por isso é por excelência, denominado de quarto poder, inclusive com a função de fiscalizar e denunciar problemas referentes aos outros três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Essa característica da imprensa embasa o processo democrático, por essa razão o jornalismo precisa ser exercido com imparcialidade, apartidarismo e transparência. É fato que a função de fiscalizar, refletir e colocar em debate as questões da sociedade, de interesse social e coletivo, por vezes pode incomodar principalmente aqueles que estão no poder. Onde há poder, flui a tentativa de calar a imprensa. Isso ocorre independentemente de ideologia ou partido político.

 

Advento das redes sociais...

 

Hoje navegamos na revolução digital, democratização da internet e o surgimento das redes sociais que fizeram com que a sociedade, através smartphones, se tornasse gerador de conteúdo. São milhões de informações, textos de opinativos vindas dos quatro cantos do mundo.

 

Isso mudou e impactou diretamente a atividade jornalística em sua essência. São textos corrosivos, tendenciosos, em meio a postagens interessantes, informativas, a exemplo dos grupos de whatsApp que atuam em corrente de grupos, alertando sobre a violência, a mobilidade urbana e os fatos políticos e decisões dos tribunais e legislativo e executivo. Em suma: nada mais se esconde na sombra do biombo do Poder.

 

Segmento ativistas, voltados à pregação dogmática, alimenta uma indústria do ódio, despejando milhares de fake news. Por outro lado o jornalista passou a não ser mais aquele detentor exclusivo da notícia. E caso não tenha um linha própria de escrever e informar, passou a ser apenas um coadjuvante no processo de comunicação. Entre o que é falso ou real, existe um hiato que por mais que se investigue a informação, nem sempre conseguimos detectar a verdade ou mentira.

 

Penso que é o momento de investir no jornalismo tradicional, cujo formato está à margem do denominados “âncoras” de tele noticias, contratados por emissoras de jornalismo tendenciosas, excludentes e ardilosas, uma indústria da desinformação, com o intuito de manipulação, para servir apenas a um senhor- o político.

Temos que dar importância da imprensa para a coletividade, uma vez que o jornalista deve sempre perseguir a verdade, revelar os fatos de interesse público, fornecer contrapontos para que os cidadãos possam analisar e formar opiniões. Nosso papel como profissional é confrontar, ouvir todos os lados, com ética, profissionalismo e exatidão, sempre. A sociedade precisa do jornalismo e a democracia, também. Um jornalismo presente, crítico, profundo. Sem imprensa livre e análise crítica, vamos nos perder na ignorância e na desinformação, muitas vezes, propositalmente produzida, com objetivos escusos.

Núcleo: ANIBRPress/Por: Roberto Monteiro Pinho – Jornalista e escritor/Imagem: Internet