GRAVE DENÚNCIA:
A falência das pesquisas eleitorais no país
1.Caso Proconsult;
2.Organizações Globo;
3.Ipec (ex Ibope);
4.Datafolha;
5.Fraudar resultados de pesquisa é crime?
O Brasil realizou em
novembro de 1982 as primeiras eleições diretas para escolher governadores, foi
no limiar da ditadura militar. O bipartidarismo entre a Arena – que dava
sustentação à ditadura – e o MDB – única oposição autorizada — havia sido
abolido.
No Rio de Janeiro, a
disputa seria acirrada. E o estado tomou uma decisão: não usaria a Serpro
(Serviço Federal de Processamento de Dados), uma empresa pública, para
totalizar os votos, que naquela época eram dados em cédulas de papel. O
Tribunal Regional Eleitoral fluminense de forma abrupta, preferiu contratar uma
empresa privada, a Proconsult, ligada a integrantes do regime dos generais.
Durante a apuração, vieram as denúncias de tentativa de manipulação. Sob a
tutela do “diferencial delta”, sistema fraudulento que era o manipulador dos
números.
Na cena do maquiavélico crime eleitoral estava a
Rede Globo de Televisão que preparou um conjunto de procedimentos para
acompanhar a apuração no Rio. E nos resultados parciais, copilava dados dos
números do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro - TRE – contaminados
na origem pelo sistema denominado ‘diferencial delta’, tendo como fonte a
famigerada Proconsult.
O forte esquema há época, quando o país ainda engatinhava no universo
eletrônico, facilitou a tentativa de fraude nas eleições de 1982. Leonel de
Moura Brizola disputou o cargo de governador do estado do Rio de Janeiro,
levando ao poder o recém fundado PDT, em 1980, e foi à luta para enfrentar as
eleições de 1982, as primeiras diretas ao governo dos estados desde o golpe de
1964.
Brizola (PDT), Miro Teixeira (PMDB), Wellington Moreira Franco (PDS),
Sandra Cavalcanti (PTB) e Lysâneas Maciel (PT)
O trabalhista entrou na disputa pelo governo do Rio, figurando na parte
debaixo das pesquisas, enfrentando na campanha o favorito Miro Teixeira (PMDB),
com apoio do seu padrinho Chagas Freitas dono do jornal O DIA, o candidato do
regime militar Wellington Moreira Franco (PDS), a herdeira do lacerdismo Sandra
Cavalcanti (PTB) e Lysâneas Maciel (PT), fundado em 1980 e que disputava sua
primeira eleição majoritária.
Nas eleições de 1982, os votos eram em cédulas de papel. O processo de
contagem previa que os votos seriam apurados nas próprias mesas coletoras e,
dali, os resultados parciais seguiriam em boletins para a totalização nas zonas
eleitorais – no caso do Rio, a totalização geral era de responsabilidade da
empresa Proconsult, que prometia agilidade e confiabilidade de resultados num
tempo em que ainda havia quem denominasse os computadores de ‘cérebros
eletrônicos’.
Na zona sul do Rio de Janeiro, coordenei a fiscalização eleitoral, e na
medida em que as folhas eram liberadas e fixadas nas paredes do local de
apuração, era destacada uma cópia e após conferir e rubricar eu enviava para
central de acompanhamento do pleito, onde os votos eram paralelamente,
conferidos e totalizados. Em todas as zonas de apuração os atuantes fiscais do
PDT faziam o mesmo.
A história veio se repetir, na apuração do TSE nas
eleições de 2022, quando atingiu 87% da apuração.
O esquema da fraude seria colocado em prática na etapa de totalização
final dos votos, quando, em função de um cognominado ‘diferencial delta’, (hoje
o que chamamos de chupa cabra) os programas instalados nos computadores da
empresa Proconsult, contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio para o
serviço, subtrairiam uma determinada porcentagem de votos dados a Brizola
transformando-os em votos nulos, ou promoveriam a transferência de sufrágios em
branco para a conta do então candidato governista e dos militares golpistas,
Moreira Franco.
A falsificação na contagem foi descoberta graças ao trabalho da
imprensa, inclusive com ampla cobertura do jornal Tribuna da Imprensa, onde já
atuava em sua editoria. Foi a partir do esquema de apuração paralela ao do TRE-RJ
montado pela Rádio Jornal do Brasil – cuja cobertura daquelas eleições
concorreu e levou larga vantagem sobre o aparato armado pelo conglomerado de
mídia hegemônico no estado, as nada confiáveis Organizações Globo.
A fraude eletrônica foi descoberta pelo pedetista
César Maia, (então candidato a deputado federal) que identificou o tal
‘diferencial delta’. Onde os programas [dos computadores] eram organizados de tal maneira que, para um
determinado número de votos contados para Brizola, o sistema abatia
automaticamente um determinado porcentual.
O ‘diferencial delta’
A história veio se repetir, agora na apuração do
TSE nas eleições de 2022, quando atingiu 87% da apuração. nada diferente apesar
dos anos.
Diante do escândalo e a fraude exposta ao público
os militares recuaram. Outro senão ficou por conta do refazimento da apuração,
e com isso, os partidos teriam que enviar os boletins (em papel carbono-cópia,
preenchidos a mão) para nova contagem. Dava para perceber rasuras de (0 virando
oito, um virando sete) tudo em flagrante prejuízo a eleitos, a partir dai,
foram subtraídos e manipulados votos de um candidato X para Z dentro, e lógico
da preferência dos coronéis dos partidos.
O objetivo do SNI não era apenas a eleição de
governador, mas sim [a tentativa de garantir] a influência no Colégio Eleitoral que ser reuniria para as eleições [presidenciais]
indiretas de 1985. Por isso foram em cima do Pedro Simon, no Rio Grande do Sul,
do Marcos Freire, em Pernambuco, e do Brizola, no Rio. O objetivo era o Colégio
Eleitoral, para dar ao PDS [o partido governista de então] e assegurar a
sucessão do general João Baptista Figueiredo.
Em meio à incerteza, numa reunião Brizola revelou
que foi procurado por um dos mentores da fraude, um dos analistas de sistemas
que fizeram o ‘diferencial delta’. Essa pessoa procurou o Brizola e ofereceu o
mapa da fraude em troca da presidência da Companhia do Metrô ou do Banco do
Estado do Rio de Janeiro. Em contrapartida dava a garantia de que a fraude não
seria consumada. E o Brizola fingiu concordar. César Maia que trouxe o
informante dominava o programa eletrônico, pressionou a Proconsult, exibiu os
mapas paralelos da Rádio JB e travou a operação. Após a posse Brizola nomeou
Cesar Maia para a presidência do Banerj.
Porque os institutos Datafolha, Ipec, Ipespe e
Quaest erraram?
Os institutos, Modal Mais e o Paraná pesquisas,
foram um dos poucos que indicaram cenários mais favoráveis a Bolsonaro, embora com números próximos, enquanto
Datafolha, Ipec (ex Ibope), Ipespe e Quaest se perderam em suas avaliações,
deixando entrever manipulação de dados, sempre a favor do candidato petista a
presidência Luiz Inácio Lula da Silva. Os números variavam distancias de
Bolsonaro para Lula com números de 14% a 11%.
Os últimos resultados previsto pelo Datafolha e pelo Ipec (ex-Ibope), no sábado
(1/10), eram, respectivamente, 50% a 36% e 48 a 31%. Se não absurdo, revelar
que Lula venceria no primeiro turno com 51% dos votos válidos.
A Pesquisa do desconhecido Arko/Atlas sobre
divulgada na sexta-feira (30/9) apontou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT)
à frente, com 50,7% dos votos válidos no primeiro turno, seguido pelo
presidente Jair Bolsonaro (PL), com 41%. O primeiro turno das eleições está
marcado para 2 de outubro. Já os levantamentos divulgados na véspera do primeiro
turno subestimaram números obtidos por Bolsonaro; em São Paulo, onde o
candidato Tarcísio de Freitas terminou em primeiro, com larga diferença de
Haddad, contrariando sondagens durante toda a campanha.
Ipesp (ex-Ibope) se mostrou tendencioso ao mascarar
pesquisa
Na véspera da eleição sábado (1/10), antes do
primeiro turno, Lula tinha 50% das intenções de votos válidos, enquanto
Bolsonaro aparecia com 36%, segundo pesquisa Datafolha. No mesmo dia, pesquisa
o Globo/Ipec mostrou o petista com 51%, (já eleito) e o presidente, com 37%
(derrotado). Por outro a pesquisa Ipespe divulgada no sábado (01/10) trazia
Lula com 49%, e Bolsonaro, com 35%. A Genial/Quaest da mesma data indicava,
respectivamente, 49% e 38%. O primeiro levantamento tinha margem de erro de
três pontos percentuais; o segundo, de dois pontos. Nada se confirmou, nem
mesmo a eleição de Lula.
No Rio de Janeiro e São Paulo erros imperdoáveis
Ainda no Sudeste, o governador Cláudio Castro (PL)
foi reeleito no primeiro turno das eleições, com 58,66% dos votos; na seqüência
apareceu Marcelo Freixo (PSB), com 28%. Os números levam em conta 99,96% das
urnas apuradas.
Pesquisa Globo/Ipec para o governo do Rio de
Janeiro mostrava o governador Castro à frente, com 47% dos votos válidos.
Marcelo Freixo (PSB) estava com 28%. Mais uma vez, a margem de erro era de dois
pontos percentuais.
Em São Paulo, com 100% das urnas apuradas, Tarcísio
de Freitas (Republicanos) recebeu 42,32% dos votos; Fernando Haddad (PT),
35,70%. Já o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), ficou com 18,4%.
Pesquisa Datafolha para o governo de São Paulo
divulgada no último sábado (1/10) mostrava Haddad à frente, com 39% dos votos
válidos, seguido por Tarcísio, com 31%, e Rodrigo Garcia, com 23%. Apesar do
levantamento indicar margem de dois pontos percentuais, a inversão do resultado
a favor de Tarcísio, foi um dos piores momentos da desastrosa performance dos
institutos de pesquisas no país.
No Rio Grande Sul erraram tudo. Governo e Senado
Para o governo do Rio Grande do Sul, a pesquisa
Ipec do último dia 30 apontava Onyx Lorenzoni 30% dos votos válidos, Eduardo
Leite aparecia com 40%. Nas urnas, no entanto, Onyx registrou 37,50% – Leite
ficou com 26,81%. A margem de erro em ambas era de 2 pontos percentuais. Com
isso, a diferença da pesquisa para as urnas foi de -13,19% para Onyx e 7,50%.
Já na disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul, o
vice-presidente Hamilton Mourão ficou com 44,11% dos votos neste domingo.
Olívio Dutra, 37,85%. A pesquisa Ipec do dia 30 apontava Mourão com 28% dos
votos válidos e Dutra com 36% – a diferente entre as urnas e a pesquisa ficou
em 16,11% para Mourão, e -1,85% para Dutra.
Os Institutos Datafolha, Ipec,
Quaest, Ipespe, Paraná, MDA, Atlas e PoderData foram procurados pelo colunista
para que comentassem o tema. Mas não se manifestaram, sequer dispunham de uma assessoria de
comunicação para atender a imprensa.
Em minha opinião diante dos
fatos aqui narrados e por tudo que a sociedade brasileira assistiu na fase pré
campanha, requer a instalação de um CPI no Congresso para apurar se houve
compra de resultados nas pesquisas divulgadas pelos institutos que atuaram
durante o processo eleitoral. E por conseqüência punir os responsáveis.
ROBERTO MONTEIRO PINHO - jornalista, editor,
escritor, ambientalista, CEO em jornalismo Investigativo e presidente da
Associação Nacional e Internacional de Imprensa - ANI. Escreve para Portais,
sites e blog de notícias nacionais e internacionais. Autor da obra: Justiça
Trabalhista do Brasil (Edit. Topbooks) e concluindo o livro “Os inimigos do Poder”.