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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

GRAVE DENÚNCIA:

A falência das pesquisas eleitorais no país

1.Caso Proconsult;

2.Organizações Globo;

3.Ipec (ex Ibope);

4.Datafolha;

5.Fraudar resultados de pesquisa é crime?

O Brasil realizou em novembro de 1982 as primeiras eleições diretas para escolher governadores, foi no limiar da ditadura militar. O bipartidarismo entre a Arena – que dava sustentação à ditadura – e o MDB – única oposição autorizada — havia sido abolido.

No Rio de Janeiro, a disputa seria acirrada. E o estado tomou uma decisão: não usaria a Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), uma empresa pública, para totalizar os votos, que naquela época eram dados em cédulas de papel. O Tribunal Regional Eleitoral fluminense de forma abrupta, preferiu contratar uma empresa privada, a Proconsult, ligada a integrantes do regime dos generais. Durante a apuração, vieram as denúncias de tentativa de manipulação. Sob a tutela do “diferencial delta”, sistema fraudulento que era o manipulador dos números.

Na cena do maquiavélico crime eleitoral estava a Rede Globo de Televisão que preparou um conjunto de procedimentos para acompanhar a apuração no Rio. E nos resultados parciais, copilava dados dos números do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro - TRE – contaminados na origem pelo sistema denominado ‘diferencial delta’, tendo como fonte a famigerada Proconsult.

O forte esquema há época, quando o país ainda engatinhava no universo eletrônico, facilitou a tentativa de fraude nas eleições de 1982. Leonel de Moura Brizola disputou o cargo de governador do estado do Rio de Janeiro, levando ao poder o recém fundado PDT, em 1980, e foi à luta para enfrentar as eleições de 1982, as primeiras diretas ao governo dos estados desde o golpe de 1964.

Brizola (PDT), Miro Teixeira (PMDB), Wellington Moreira Franco (PDS), Sandra Cavalcanti (PTB) e Lysâneas Maciel (PT)

O trabalhista entrou na disputa pelo governo do Rio, figurando na parte debaixo das pesquisas, enfrentando na campanha o favorito Miro Teixeira (PMDB), com apoio do seu padrinho Chagas Freitas dono do jornal O DIA, o candidato do regime militar Wellington Moreira Franco (PDS), a herdeira do lacerdismo Sandra Cavalcanti (PTB) e Lysâneas Maciel (PT), fundado em 1980 e que disputava sua primeira eleição majoritária.

Nas eleições de 1982, os votos eram em cédulas de papel. O processo de contagem previa que os votos seriam apurados nas próprias mesas coletoras e, dali, os resultados parciais seguiriam em boletins para a totalização nas zonas eleitorais – no caso do Rio, a totalização geral era de responsabilidade da empresa Proconsult, que prometia agilidade e confiabilidade de resultados num tempo em que ainda havia quem denominasse os computadores de ‘cérebros eletrônicos’. 

Na zona sul do Rio de Janeiro, coordenei a fiscalização eleitoral, e na medida em que as folhas eram liberadas e fixadas nas paredes do local de apuração, era destacada uma cópia e após conferir e rubricar eu enviava para central de acompanhamento do pleito, onde os votos eram paralelamente, conferidos e totalizados. Em todas as zonas de apuração os atuantes fiscais do PDT faziam o mesmo.

A história veio se repetir, na apuração do TSE nas eleições de 2022, quando atingiu 87% da apuração.

O esquema da fraude seria colocado em prática na etapa de totalização final dos votos, quando, em função de um cognominado ‘diferencial delta’, (hoje o que chamamos de chupa cabra) os programas instalados nos computadores da empresa Proconsult, contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio para o serviço, subtrairiam uma determinada porcentagem de votos dados a Brizola transformando-os em votos nulos, ou promoveriam a transferência de sufrágios em branco para a conta do então candidato governista e dos militares golpistas, Moreira Franco.

A falsificação na contagem foi descoberta graças ao trabalho da imprensa, inclusive com ampla cobertura do jornal Tribuna da Imprensa, onde já atuava em sua editoria. Foi a partir do esquema de apuração paralela ao do TRE-RJ montado pela Rádio Jornal do Brasil – cuja cobertura daquelas eleições concorreu e levou larga vantagem sobre o aparato armado pelo conglomerado de mídia hegemônico no estado, as nada confiáveis Organizações Globo.

A fraude eletrônica foi descoberta pelo pedetista César Maia, (então candidato a deputado federal) que identificou o tal ‘diferencial delta’. Onde os programas [dos computadores] eram organizados de tal maneira que, para um determinado número de votos contados para Brizola, o sistema abatia automaticamente um determinado porcentual.

O ‘diferencial delta’

A história veio se repetir, agora na apuração do TSE nas eleições de 2022, quando atingiu 87% da apuração. nada diferente apesar dos anos. 

Diante do escândalo e a fraude exposta ao público os militares recuaram. Outro senão ficou por conta do refazimento da apuração, e com isso, os partidos teriam que enviar os boletins (em papel carbono-cópia, preenchidos a mão) para nova contagem. Dava para perceber rasuras de (0 virando oito, um virando sete) tudo em flagrante prejuízo a eleitos, a partir dai, foram subtraídos e manipulados votos de um candidato X para Z dentro, e lógico da preferência dos coronéis dos partidos.

O objetivo do SNI não era apenas a eleição de governador, mas sim [a tentativa de garantir] a influência no Colégio Eleitoral que ser reuniria para as eleições [presidenciais] indiretas de 1985. Por isso foram em cima do Pedro Simon, no Rio Grande do Sul, do Marcos Freire, em Pernambuco, e do Brizola, no Rio. O objetivo era o Colégio Eleitoral, para dar ao PDS [o partido governista de então] e assegurar a sucessão do general João Baptista Figueiredo.

Em meio à incerteza, numa reunião Brizola revelou que foi procurado por um dos mentores da fraude, um dos analistas de sistemas que fizeram o ‘diferencial delta’. Essa pessoa procurou o Brizola e ofereceu o mapa da fraude em troca da presidência da Companhia do Metrô ou do Banco do Estado do Rio de Janeiro. Em contrapartida dava a garantia de que a fraude não seria consumada. E o Brizola fingiu concordar. César Maia que trouxe o informante dominava o programa eletrônico, pressionou a Proconsult, exibiu os mapas paralelos da Rádio JB e travou a operação. Após a posse Brizola nomeou Cesar Maia para a presidência do Banerj.

Porque os institutos Datafolha, Ipec, Ipespe e Quaest erraram?

Os institutos, Modal Mais e o Paraná pesquisas, foram um dos poucos que indicaram cenários mais favoráveis a Bolsonaro, embora com números próximos, enquanto Datafolha, Ipec (ex Ibope), Ipespe e Quaest se perderam em suas avaliações, deixando entrever manipulação de dados, sempre a favor do candidato petista a presidência Luiz Inácio Lula da Silva. Os números variavam distancias de Bolsonaro para Lula com números de 14% a 11%.

Os últimos resultados previsto pelo Datafolha e pelo Ipec (ex-Ibope), no sábado (1/10), eram, respectivamente, 50% a 36% e 48 a 31%. Se não absurdo, revelar que Lula venceria no primeiro turno com 51% dos votos válidos.

A Pesquisa do desconhecido Arko/Atlas sobre divulgada na sexta-feira (30/9) apontou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente, com 50,7% dos votos válidos no primeiro turno, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 41%. O primeiro turno das eleições está marcado para 2 de outubro. Já os levantamentos divulgados na véspera do primeiro turno subestimaram números obtidos por Bolsonaro; em São Paulo, onde o candidato Tarcísio de Freitas terminou em primeiro, com larga diferença de Haddad, contrariando sondagens durante toda a campanha.

Ipesp (ex-Ibope) se mostrou tendencioso ao mascarar pesquisa

Na véspera da eleição sábado (1/10), antes do primeiro turno, Lula tinha 50% das intenções de votos válidos, enquanto Bolsonaro aparecia com 36%, segundo pesquisa Datafolha. No mesmo dia, pesquisa o Globo/Ipec mostrou o petista com 51%, (já eleito) e o presidente, com 37% (derrotado). Por outro a pesquisa Ipespe divulgada no sábado (01/10) trazia Lula com 49%, e Bolsonaro, com 35%. A Genial/Quaest da mesma data indicava, respectivamente, 49% e 38%. O primeiro levantamento tinha margem de erro de três pontos percentuais; o segundo, de dois pontos. Nada se confirmou, nem mesmo a eleição de Lula.

No Rio de Janeiro e São Paulo erros imperdoáveis

Ainda no Sudeste, o governador Cláudio Castro (PL) foi reeleito no primeiro turno das eleições, com 58,66% dos votos; na seqüência apareceu Marcelo Freixo (PSB), com 28%. Os números levam em conta 99,96% das urnas apuradas.

Pesquisa Globo/Ipec para o governo do Rio de Janeiro mostrava o governador Castro à frente, com 47% dos votos válidos. Marcelo Freixo (PSB) estava com 28%. Mais uma vez, a margem de erro era de dois pontos percentuais.

Em São Paulo, com 100% das urnas apuradas, Tarcísio de Freitas (Republicanos) recebeu 42,32% dos votos; Fernando Haddad (PT), 35,70%. Já o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), ficou com 18,4%.

Pesquisa Datafolha para o governo de São Paulo divulgada no último sábado (1/10) mostrava Haddad à frente, com 39% dos votos válidos, seguido por Tarcísio, com 31%, e Rodrigo Garcia, com 23%. Apesar do levantamento indicar margem de dois pontos percentuais, a inversão do resultado a favor de Tarcísio, foi um dos piores momentos da desastrosa performance dos institutos de pesquisas no país.

No Rio Grande Sul erraram tudo. Governo e Senado

Para o governo do Rio Grande do Sul, a pesquisa Ipec do último dia 30 apontava Onyx Lorenzoni 30% dos votos válidos, Eduardo Leite aparecia com 40%. Nas urnas, no entanto, Onyx registrou 37,50% – Leite ficou com 26,81%. A margem de erro em ambas era de 2 pontos percentuais. Com isso, a diferença da pesquisa para as urnas foi de -13,19% para Onyx e 7,50%.

Já na disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul, o vice-presidente Hamilton Mourão ficou com 44,11% dos votos neste domingo. Olívio Dutra, 37,85%. A pesquisa Ipec do dia 30 apontava Mourão com 28% dos votos válidos e Dutra com 36% – a diferente entre as urnas e a pesquisa ficou em 16,11% para Mourão, e -1,85% para Dutra.

Os Institutos Datafolha, Ipec, Quaest, Ipespe, Paraná, MDA, Atlas e PoderData foram procurados pelo colunista para que comentassem o tema. Mas não se manifestaram, sequer dispunham de uma assessoria de comunicação para atender a imprensa.

Em minha opinião diante dos fatos aqui narrados e por tudo que a sociedade brasileira assistiu na fase pré campanha, requer a instalação de um CPI no Congresso para apurar se houve compra de resultados nas pesquisas divulgadas pelos institutos que atuaram durante o processo eleitoral. E por conseqüência punir os responsáveis.

ROBERTO MONTEIRO PINHO - jornalista, editor, escritor, ambientalista, CEO em jornalismo Investigativo e presidente da Associação Nacional e Internacional de Imprensa - ANI. Escreve para Portais, sites e blog de notícias nacionais e internacionais. Autor da obra: Justiça Trabalhista do Brasil (Edit. Topbooks) e concluindo o livro “Os inimigos do Poder”.