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terça-feira, 25 de outubro de 2022

 

ALERTA: O fenômeno da implosão dos posts nas redes sociais e o ativismo político da imprensa

ROBERTO MONTEIRO PINHO

O apoio a candidaturas, partidos e lideranças políticas é por excelência um instrumento de caráter intimo e privado. Não cabe a veículos de imprensa empreender campanha através de suas editorias, adotando viés político, que compromete o endosso de seus seguidores (eleitores), o que se constitui essa pratica num ardil a interesses tão sórdidos quando aos que ingressam no legislativo e no executivo, com objetivo de usufruir vantagens, até mesmo subliminar, compensado e por sua vez, através de moeda de troca com o pagamento de publicidade.

Em outras palavras, essa pratica não só fere princípios do direito do leitor/eleitor, mas também do próprio processo eleitoral, eis que o acesso a grande mídia é visível e privilégio dos que possuem capital para investir nesse meio criminoso de fazer jornalismo.

A regra editorial é soberbamente, alçada do proprietário de um jornal ou de seu conselho editorial. Os jornalistas podem saber que a decisão de qual candidato apoiar difere da execução da reportagem, mas seus eleitores não podem ser cooptados.

Estudos comprovam que a imprensa induz o leitor a sua linha editorial  

Um estudo publicado no *Journalism and Mass Communication Quarterly, muitos jornalistas passaram a ver os endossos editoriais como uma responsabilidade. Em 2020, o *Nieman Lab conversou com 64 jornalistas políticos com afiliações que variam de agências de notícias exclusivamente digitais a revistas nacionais e jornais locais e nacionais. E teve como sinal vital do desmando, em a maioria dos jornalistas entrevistados não questionou a capacidade de suas Redações de manter o muro metafórico entre os lados editorial e de reportagem, com um repórter se referindo a isso como “um firewall bastante rígido”.

A necessidade de explicar aos leitores a divisão entre um apoio do conselho editorial de um jornal e os outros jornalistas do jornal. Alguns repórteres disseram que as fontes perguntaram por que eles apoiaram o outro candidato.

Os jornalistas se viam esclarecendo que não haviam apoiado ninguém — seu conselho editorial sim. Como disse um jornalista: “Ninguém sabe a distinção entre o conselho editorial e os repórteres, e é nossa culpa não contar a eles. A cada 4 anos damos um tiro no pé”. Outro observou: “Os partidos políticos gostam de criticar algumas empresas de notícias, levando os espectadores a acreditar que uma empresa de notícias é tendenciosa”. Os apoios, acrescentou: “podem exacerbar essas noções preconcebidas”.

A maioria dos jornalistas, afirmaram que a prática de apoios políticos é um tanto arcaica e até mesmo imoral. Dos jornalistas entrevistados os defensores da ideia de apoios sentiram que a prática exacerbou o trabalho já árduo do jornalismo político, escamoteados pelas exigências e pressão política, complicado pela crescente polarização política e a total e inequívoca desconfiança do público. “Os leitores prestam pouca atenção a essa distinção entre opinião e não opinião”, disse-nos um jornalista – assinala a pesquisa. 

Notavelmente, ao delimitar a separação entre o quadro editorial e a Redação, os jornalistas o fizeram não só metaforicamente – evocando a imagem de uma parede separando os 2 – mas também gramaticalmente, por meio dos pronomes que usaram para nos explicar as práticas de sua Redação. Jornalistas que trabalhavam em Redações que ofereciam apoios usavam o termo “eles” para denotar o conselho editorial e enfatizar sua própria separação do processo de endosso.

Em contraste, quando os jornalistas estavam em Redações que não oferecem endossos, eles freqüentemente usavam o termo “nós” para descrever a prática, por exemplo, “nós não fazemos isso”. Um movimento retórico sinalizando que eles abraçaram e internalizaram essa posição. Um jornalista disse que eles realmente deixaram sua Redação porque ela publicava endossos editoriais, ou seja: Forçavam publicações tendenciosas.

Política editorial ética e justa

Alguns jornais já mudaram suas políticas. No período que antecedeu as eleições de 2020 nos EUA, McClatchy anunciou que os jornais de seu grupo não fariam apoios aos candidatos à Presidência, a menos que entrevistassem individualmente os 2 concorrentes. O Dallas Morning News tomou uma decisão semelhante de não apoiar nenhum dos candidatos em 2020, depois de receber uma reação negativa em 2016.

Os jornalistas entrevistados acharam os apoios editoriais mais valiosos nas eleições locais. Os tipos de relacionamento que os jornais locais cultivam com os leitores, eles disseram, são diferentes dos relacionamentos com os jornais nacionais.

Os jornais locais também desfrutam de níveis mais altos de confiança com os leitores do que os jornais nacionais. Isso pode tornar mais provável que o público perceba os apoios editoriais como um exemplo de jornais cumprindo sua promessa de informar o público, e não como exemplos de viés tendencioso da mídia, que se dá em dois aspectos, publicar matérias tendenciosas como prioridade e as demais, com menos ênfase e número de inserções.

Em contraste com as disputas estaduais e federais, os jornalistas argumentaram que em eleições locais, como vereadores ou eleições para prefeito, os candidatos geralmente concorrem como candidatos apartidários, o que pode tornar menos provável que o público veja os endossos editoriais por meio de uma lente partidária. Alguns indicaram que nas eleições locais – que muitas vezes acabam ofuscadas pela cobertura jornalística das corridas nacionais – muitas vezes faltam informações robustas sobre os candidatos. Isso, mais uma vez, poderia justificar as decisões dos jornais de emitir endossos editoriais como parte de seu serviço ao público.

Mas, com base na pesquisa, vale à pena considerar se o endosso dos meios de comunicação é uma tradição que continua a servir ao público, e que cada vez mais carece do uso da regra escrita e moral do profissional. (Imagem: Redes Sociais).

Fonte de pesquisa:

https://nieman.harvard.edu/

https://journals.sagepub.com/loi/JMQ

Roberto Monteiro Pinho - jornalista, escritor, ambientalista, CEO em jornalismo Investigativo e presidente da Associação Nacional e Internacional de Imprensa - ANI. Escreve para Portais, sites e blog de noticias nacionais e internacionais. Autor da obra: Justiça Trabalhista do Brasil (Edit, Topbooks), em revisão o livro “Os inimigos do Poder”.