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segunda-feira, 22 de julho de 2019


O enigma da caixa-preta do BNDES

ROBERTO MONTEIRO PINHO

No conjunto das falcatruas com o dinheiro público (parte dele do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador) no BNDES, são "Três CPIs, auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria Geral da União (CGU), investigações do Ministério Público Federal e 16 financiamentos de obras no exterior suspensos por suspeitas de fraudes investigadas pela Operação Lava Jato.

No foco da investigação o BNDES.

O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi alvo, nos últimos quatro anos, de uma verdadeira devassa em busca de irregularidades em sua gestão nos governos Lula e Dilma (principalmente entre 2013 e 2015). Além disso, o banco adotou nova postura quanto à transparência e passou a divulgar em seu site seus balanços, contratos, ações societárias, investimentos e tudo o que julga ser informação de interesse público.

Apesar dessas providências, o presidente Jair Bolsonaro na extensão do seu discurso de campanha em 2018, quer mais: exigiu do novo presidente do banco, Gustavo Montezano, que abra a “caixa-preta” do BNDES. A visível complacência cessou após queixas que levaram à queda de Joaquim Levy do cargo.

Embora desde março, funcione na Câmara dos Deputados, a “CPI das práticas de atos ilícitos e irregulares no BNDES”, a terceira comissão de inquérito instalada no Congresso para investigar o banco nos últimos quatro anos.

Depois das duas comissões anteriores serem concluídas com relatórios, surpreendentemente não responsabilizaram nenhuma pessoa por nenhum ato ilícito e apenas fizeram recomendações de condutas e procedimentos que o banco, inclusive, já estava adotando na época.

A nova CPI teve, até agora, como grande revelação, um relatório entregue pelo TCU, que aponta suspeita sobre a classificação de risco dos empréstimos concedidos para obras de engenharia em países da América Latina. Tal relatório, no entanto, é de maio de 2018, foi tornado público pelo Tribunal à época e já é parte de alguns processos da Lava Jato.
O relatório do TCU cita uma resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex), de 23 de dezembro de 2013, que baixou para risco 1 – num ranking que vai de 1 a 7 – todas as operações financiadas pelo BNDES por intermédio do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR) da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).
Com isso, qualquer operação do BNDES com Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e República Dominicana, passou a ter classificação de risco mínimo.

Da mesma forma que a CPI o TCU não responsabilizou, no entanto, nenhum diretor ou funcionário do BNDES, entendendo que o banco apenas cumpriu uma resolução governamental, seguindo uma política adotada pelo governo da época. No foco disso tudo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da silva e a ex-presidente Dilma Rousseff.

O fato é que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social - BNDES enfrenta calote em parcelas do financiamento de Venezuela (integrante da Aladi), Moçambique e Cuba, que também tiveram a classificação de risco reduzida, mas em outra manobra governamental, cita o TCU. “Essa situação expõe a absoluta falta de critério com que foram concedidos financiamentos para viabilizar empreendimentos em países da África, da América Latina e do Sul entre os anos de 2005 e 2014, a serem realizados por construtoras brasileiras”, diz o relatório
.
Fora da Aladi, (Angola que ostenta um suntuoso Consulado na Avenida Beira Mar esquina da Avenida Rio Branco no coração da cidade do Rio de janeiro), também teve sua nota de risco rebaixada para facilitar a concessão de empréstimos do BNDES para obras no país. Quem confirmou a informação à CPI, em depoimento sigiloso, no dia 2 de julho, foi o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Delator da Lava Jato, Palocci reafirmou, segundo deputados que participaram da audiência, o que já havia revelado para o Ministério Público Federal: a nota de risco de Angola teria sido rebaixada por decisão da Presidência da República, diminuindo as exigências para a concessão de empréstimo, bem como o valor do seguro, em troca de propina paga pela construtora Odebrecht ao PT.

A manobra, segundo Palocci, teria permitido que um conjunto de empréstimos saltasse de R$ 600 milhões para R$ 1 bilhão, dos quais mais de R$ 60 milhões teriam sido repassados ao PT.

“Infelizmente os itens de maior valor vinham de outros países. Havia um desequilíbrio. Em um empréstimo de US$ 3 bilhões, US$ 1 bilhão era de elementos importados de outros países e US$ 200 milhões eram serviços", afirmou Palocci na CPI.

Sem dúvida o Partido dos Trabalhadores PT se constituiu numa facção vil e extremamente escabrosa, que usou dinheiro público para estreitar relações com países, sem lastro, e com empresa inidônea. Com isso é preciso punir e responsabilizar seus dirigentes, levando ao tribunal para serem julgados pelos crimes que cometeram.