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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020



 O descaso público com o meio ambiente

ROBERTO MONTEIRO PINHO

O planeta caminha a passos largos para esgotar o suporte da natureza, e sua resistência as constantes violações produzidas pela ganância, imprudência e desalinho do homem a o mais importante sistema de vida, que é a água. Mas antes de falar sobre a questão central da crise do abastecimento d’água no Rio de Janeiro, destaco as observações que seguem.

Apesar dos investimentos de vários países em energias renováveis e sustentabilidade, o mundo pode viver uma "catástrofe ambiental" em 2050. É o alerta global, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2013, apresentado em 2019 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Ao fim dos próximos 37 anos, são estimadas mais de 3 bilhões de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza, das quais pelo menos 155 milhões estariam na América Latina e no Caribe. E essa condição demográfica e social seria motivada também pela degradação do meio ambiente e pela redução dos meios de subsistência, como a agricultura e o acesso à água potável.

De acordo com a previsão de desastre apresentada pelo relatório, cerca de 2,7 bilhões de pessoas a mais viveriam em extrema pobreza em 2050 como conseqüências do problema ambiental. Desse total, 1,9 bilhão seria composto por indivíduos que entraram na miséria, e os outros 800 milhões seriam aqueles impedidos de sair dessa situação por causa das calamidades do meio ambiente.

No cenário mais grave, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global diminuiria 15% em 2050, chegando a uma redução de 22% no Sul da Ásia (Índia, Paquistão, Sri Lanka, Nepal, Bangladesh, Butão e Maldivas) e de 24% na África Subsaariana (todos os países ao sul do Deserto do Saara).

Na Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro em junho de 2012, foi negociado entre os governos da região da Ásia e do Pacífico um acordo para proteção do maior recife de corais do mundo, o chamado Triângulo de Coral, que se estende desde a Malásia e a Indonésia até as Ilhas Salomão. A área é responsável por fornecer o sustento para mais de 100 milhões de pessoas.

Além disso, alguns países estão trabalhando juntos na bacia do Rio Congo para combater o comércio ilegal de madeira e preservar o segundo maior território florestal do mundo. Bancos regionais de desenvolvimento também apresentaram uma iniciativa que conta com US$ 175 bilhões (R$ 350 bilhões) para promover o transporte público e ciclovias em algumas das principais cidades do mundo.

Desde o início de janeiro, a população do Rio de Janeiro reclama que a água distribuída pela Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Estado) tem saído turva das torneiras e filtros, com cheiro e gosto de terra. A causa detectada pela Cia é uma substância orgânica chamada geosmina, produzida quando há muita alga e bactéria na água, que até agora não deu indícios concretos de malefícios à saúde.

Por essa razão a Cedae, estatal responsável pelo tratamento e distribuição na região metropolitana, identificou um grande volume de detergentes na água captada pela sua principal estação, a Guandu, e decidiu fechar as comportas, paralisando a operação por 15 horas. A medida causou o desabastecimento de vários pontos e levou a Prefeitura do Rio (e a de Nova Iguaçu) a adiar em um dia o início do ano letivo na rede municipal, porque "muitas" das mais de 1.500 escolas estão sem água.

O que mais causa indignação púbica é o consumidor, além do risco de uma contaminação, ter que arcar com custo para adquirir água mineral vendida no comércio, que em razão da grande procura, aumentou o preço em até três vezes o valor de mercado, antes do anúncio do desastre provocado pela gestão da Cedae, que recebe todo instante pesadas criticas nas redes sociais.

Assim fica claro para o consumidor que empresas públicas e privadas, não mais se importam com a população e por conseqüência, não pouco ocorrem desastres ambientais, a exemplo do rompimento criminoso de barreiras em hidroelétricas, torres de alta tensão, e o precário saneamento, apesar da cobrança da taxa de esgoto, introduzidas nas contas de consumo.

Será profícuo o Legislativo promover à abertura de uma CPI para apurar se houve crime de responsabilidade no desastre do abastecimento de água no Rio de Janeiro.