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segunda-feira, 14 de outubro de 2019


Serviço público medíocre pago com altos salários

ROBERTO MONTEIRO PINHO

Setores da sociedade e do governo federal estão focados num dos maiores problemas da máquina estatal - o serviço público. No pomo da discussão o agente público, que se tornou um pesadelo para as contas da União.

Cercado de uma blindagem que dá proteção e garantia com super salário, e vantagens, o servidor público, é hoje visivelmente “o inimigo do estado”.  Com um total de 11,5 milhões de servidores públicos e custo de R$ 725 bilhões, no ano de 2017, o serviço público brasileiro consome 10,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

É o que mostra o “Atlas do Estado Brasileiro”, uma plataforma interativa lançada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um ano depois os números cresceram, na superfície de uma economia debilitada, alta taxa de desemprego e a reforma administrativa e curso.

O número absoluto de servidores com vínculo ativo, civis e militares, saltou de 7,5 milhões para 11,5 milhões nos últimos 20 anos, de 1995 para 2016. Segundo o estudo, este crescimento se concentrou nos municípios, onde 40% dos trabalhadores são de serviços essenciais como médicos, enfermeiros e professores. O mesmo perfil profissional é refletido nos estados. 
O atlas reuniu dados dos ministérios do Trabalho e Emprego; do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, do Tesouro Nacional e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - pesquisas Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), de Informações Básicas Estaduais (Estadic) e de Informações Básicas Municipais (Munic).
A pesquisa também mostra o aumento da qualificação dos servidores públicos. De 1995 a 2016, o número de servidores federais com nível superior completo ou pós-graduação subiu de 45% para 78%, nos estados passou de 28% para 60%, e nos municípios os graduados ou pós-graduados passaram de 19% para 38%.
Segundo o Ipea, o objetivo do estudo é apresentar dados e evidências para qualificar o debate sobre o setor público no Brasil.
Relatório do Banco Mundial, indica que o crescimento real projetado para a folha de pagamentos de servidores ativos para o período de 2018 a 2030 é de 1,12% ao ano, caso não seja implementada nenhuma reforma.

Entre 2008 e 2018, houve crescimento real médio da folha de pagamentos de servidores ativos do governo federal de 2,5% ao ano, passando de R$ 105,4 bilhões para R$ 132,7 bilhões. Já a contratação de novos servidores apresentou uma taxa de 1,29 novo servidor para cada aposentado, aumentando o número total de servidores.

Para o Banco Mundial, uma das soluções é reduzir o salário de entrada no serviço público. “Estima-se que reduzindo todos os salários iniciais a, no máximo, R$ 5.000,00 e aumentando o tempo necessário para se chegar ao fim de carreira, obtém-se uma economia acumulada até 2030 de R$ 104 bilhões. Como alternativa, reduzir os atuais salários iniciais em 10% geraria uma economia acumulada de R$ 26,35 bilhões”, diz o estudo.

O governo do PT foi tenaz para o país, ao abraçar a causa dos servidores. Na gestão o número de servidores públicos saltou de 540 mil em 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, para 712 mil em 2019. No mesmo período, os salários médios do pessoal, que era inferior a R$ 4.000 em 2003, hoje é de quase R$ 12 mil.

Banco Mundial também recomenda reduzir as taxas de contratação de novos servidores à medida que outros se aposentam, o que gerará impacto fiscal no longo prazo. Outra proposta do Banco Mundial é o congelamento de aumentos salariais, não relacionados à progressão, por três anos, e retornando posteriormente, o que geraria economia acumulada até 2030 de R$ 187,9 bilhões.

O fato é diante do quadro que se apresenta, ninguém pode esperar uma melhora no curto prazo. As empresas já estão trabalhando no limite da capacidade, os salários da maioria dos trabalhadores da iniciativa privada já estão comprimidos ao máximo, os índices de emprego não reagem na velocidade exigida por um mercado em que a desocupação já ultrapassou o limite suportável. E pior, o Brasil não pode esperar.