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domingo, 28 de junho de 2020



ANÁLISE & POLÍTICA
ROBERTO MONTEIRO PINHO

Fake news se repetira nas eleições deste ano
Apesar de iniciativas das próprias empresas de redes sociais e de regulamentações feitas pela Justiça Eleitoral, o país ainda deixa a desejar nos esforços para coibir a disseminação de boatos e mentiras na internet, segundo estudiosos e profissionais.
O impacto pode ser ainda maior nas eleições municipais deste ano: com a pandemia do novo coronavírus, a campanha eleitoral deve se tornar ainda mais virtual do que foi em 2018, com maior quantidade de dinheiro despejada nos meios eletrônicos.
Recursos para os partidos
No fim de 2019, o Congresso também aumentou o volume de recursos disponíveis para as campanhas. Só o chamado 'Fundão Eleitoral' distribuirá R$ 2,03 bilhões aos partidos este ano.
Na quinta-feira (25/06), o Senado adiou um projeto de lei cujo objetivo é coibir a disseminação das chamadas fake news - a proposta, no entanto, vem enfrentando críticas de empresas do setor, de influenciadores digitais e de parlamentares. Formalmente, o PL 2630 de 2020 foi batizado de Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet.
Flávio Bolsonaro...
Sem base de sustentação no Senado, o governo intensificou as negociações para distribuir cargos no momento em que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é alvo de investigações e a oposição recolhe assinaturas para outra CPI no Congresso.
Ao mesmo tempo, desde a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, no dia 18 de junho, líderes de partidos pressionam o Conselho de Ética do Senado para abrir processo de cassação contra Flávio, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.

Embora o senador tenha conseguido uma vitória no inquérito que investiga o esquema de "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio, a avaliação no Palácio do Planalto é a de que o governo precisa de uma blindagem no Senado.

Depois das tratativas sobre cargos para indicados pelo Centrão  na Câmara, com o objetivo de barrar qualquer processo de impeachment contra Bolsonaro, o Planalto tem agora um foco maior sobre outra Casa, de Salão Azul.

Alcolumbre quer a sua reeleição na presidência do Senado

As conversas também envolvem um possível apoio do governo à reeleição do presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). A disputa no Congresso está marcada para fevereiro de 2021 e a Constituição proíbe que presidentes da Câmara e do Senado sejam reconduzidos ao posto na mesma legislatura. Alcolumbre tem, no entanto, um parecer indicando que, como o mandato de senador dura oito anos - o dobro do de deputado -, existe saída jurídica para permitir a reeleição. Maia, por sua vez, nega que seja candidato.

Até agora, Alcolumbre conseguiu manter com seu partido, o DEM, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A indicação foi feita pela Câmara, mas apadrinhada pelo presidente do Senado. Na outra ponta, o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ficou com o chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas. O FNDE tem uns dos orçamentos mais cobiçados pelos partidos: R$ 54 bilhões por ano.

CPI da fake news do Senado reduz multa

Depois de receber críticas, o relator do projeto de lei sobre as fake news no Senado, Angelo Coronel (PSD-BA), vai excluir a parte do texto que prevê multa de até R$ 10 milhões para quem ridiculariza candidatos. Essa proposta, apresentada em uma minuta do relatório, foi considerada como uma brecha para punir o humor político e as sátiras durante as eleições.

Agora, Coronel afirma que vai elaborar um novo artigo e explícito que a proibição se limita apenas à propaganda eleitoral. O valor da multa deve ser reduzido para R$ 1 milhão.

"Estou excluindo a redação do artigo 53B e propondo um novo para que fique mais didático. Minha proposta não está atingindo a liberdade de expressão. Aquilo ali é de candidato para candidato, para coibir a ação de candidatos que ridicularizam outros candidatos para tentar ganhar a eleição dessa maneira vil", argumenta o senador.

A violência policial no Rio de Janeiro
Apesar da redução do número de pessoas nas ruas por conta da pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2), a violência policial atingiu um pico no Brasil em março e abril, primeiros meses com as restrições impostas para minimizar o contágio. Um levantamento junto às secretarias estaduais de Segurança aponta que houve 1.198 mortes em decorrência de intervenções policiais no bimestre, número 26% superior às 949 contabilizadas no mesmo período do ano passado.
O aumento foi alavancado por abril, que registrou 719 mortes, frente a 477 em 2019 — houve crescimento em dez estados, queda em três, e em dois os números ficaram estáveis. O volume expressivo de mortes por ações da polícia em abril fez com que o primeiro quadrimestre do ano superasse o do ano passado — até março, os dados indicavam uma queda em 2020.
Em São Paulo

Aos 17 anos, Gabriela Talhaferro enfrenta a quarentena com ansiedade. Ela perdeu a visão do olho esquerdo em novembro do ano passado, atingida por uma bala de borracha disparada por um policial militar. O olho da adolescente foi alvejado na madrugada de 10 de novembro de 2019, um domingo, depois que a polícia dispersou uma multidão de jovens que aguardavam por um baile funk em Guaianases, na Zona Leste de São Paulo.

Paraisópolis...

O caso aconteceu cerca de 20 dias antes da morte de nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, na comunidade de Paraisópolis, durante uma ação policial para dispersar um pancadão. Desde a agressão, Gabriela sofreu depressão, se trancou no quarto, ficou sem comer e perdeu mais de cinco quilos. Sete meses se passaram, mas não houve punição para o PM que disparou em direção ao seu rosto.

O tiro, relata Gabriela, partiu de uma viatura da PM que passou pela rua. Ferida, ela chegou a ir até os policiais e pedir ajuda, que foi negada:
— Tenho certeza que o policial quis me atingir de propósito, porque não havia outras pessoas perto. Eu estava praticamente sozinha na calçada. Quando vi o sangue fui até as viaturas pedir ajuda, eles riram e me xingaram — conta.
A queda de audiência na Globo
Principal telejornal da Globo, o Jornal Nacional sofreu queda de audiência em meio a uma guerra travada com o governo de Jair Bolsonaro. Nos primeiros vinte e dois dias de maio, o Jornal Nacional alcançou média de 31,6 pontos na capital paulista e região metropolitana. Jair Bolsonaro e a Globo estão em guerra mais acalorada desde o início da pandemia por causa da divulgação dos dados sobre a Covid-19.

No dia 04 de junho, o presidente chegou a admitir em entrevista que havia mandado atrasar a divulgação dos casos de Covid-19 por causa do telejornal de William Bonner e Renata Vasconcellos. “Acabou a matéria no Jornal Nacional”, disparou ele, que atacou a emissora.

Coca-Cola retira a publicidade nas redes Facebbok e Thitter

A Coca-Cola Company anunciou uma pausa de 30 dias em todo o conteúdo de publicidade veiculado nas redes sociais Facebook Twitter. A empresa alega que está revisando suas políticas de anúncio digital, um movimento entre marcas que exigem das plataformas melhores práticas para lidar com conteúdos de ódio on-line. 

A empresa de bens de consumo Unilever também suspendeu suas peças nas redes sociais até o final do ano, pelo menos, devido a um "período eleitoral polarizado". Neste domingo (28), a Starbucks entrou para a lista. A empresa vai "realizar discussões internas e com parceiros de mídia e organizações de direitos civis para impedir a disseminação do discurso de ódio", afirmou em comunicado.

 A Coca-Cola aponta para casos de racismo não solucionados pelas empresas de tecnologia. De acordo com nota assinada pelo CEO, James Quincy, a empresa de bebidas aguarda medidas de transparência e responsabilização dos parceiros de mídias sociais para retomar a investir em publicidade nas redes.

Publicidade só retorna sem discurso de ódio e discriminação

Com o anúncio, a Unilever e a Coca-Cola somam-se a uma lista crescente de companhias que estão boicotando o Facebook por períodos de tempo variados, como Verizon Communications, Patagonia, VF Corp., Eddie Bauer e Recreational Equipment.

A medida das marcas é um marco importante na escalada de esforços dos anunciantes para que as companhias tecnológicas adotem mudanças em relação ao conteúdo publicado nas redes.

"Com base na atual polarização e na eleição que teremos nos EUA, precisa haver muito mais fiscalização na área do discurso de ódio", disse Luis Di Como, vice-presidente executivo de mídia global da Unilever.
"Continuar anunciando nessas plataformas neste momento não acrescentaria valor às pessoas e à sociedade", declarou a empresa.

Instagram

A suspensão, que deve valer até o fim do ano, também afeta o Instagram. Como resposta à pressão dos anunciantes, o Facebook anunciou que começará a marcar postagens com discurso político que violem suas regras e tomará outras medidas para evitar a repressão a eleitores e proteger minorias contra abusos.

A publicidade faz parte de quase toda a receita da companhia. No primeiro trimestre deste ano, o faturamento total da empresa fechou em US$ 17,7 bilhões (R$ 96,9 bilhões), dos quais 98% ou US$ 17,4 bilhões (R$ 95,3 bilhões) vieram da publicidade, de acordo com o relatório divulgado a investidores.