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terça-feira, 24 de setembro de 2019

ANÁLISE & POLÍTICA
ROBERTO MONTEIRO PINHO

O presidente Bolsonaro na ONU
Em sua estréia na ONU, durante a abertura da 74ª Assembleia-Geral, em Nova York, nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro fez na terça-feira (24) um discurso agressivo em que criticou países como Cuba e Venezuela, e defendeu a soberania do Brasil sobre a Amazônia.
Por tradição, um representante do Brasil é sempre o primeiro a falar. A BBC News Brasil selecionou quatro destaques do discurso do presidente brasileiro nas Nações Unidas.

Socialismo

Bolsonaro abriu seu discurso dizendo que o Brasil "ressurge depois de estar à beira do socialismo". Ele fez duras críticas a Cuba, em especialmente ao programa Mais Médicos — que levou médicos cubanos para trabalhar no Brasil — e também à Venezuela.
"Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que
Segundo Bolsonaro, "a história nos mostra que, já nos anos 60, agentes cubanos foram enviados a diversos países para colaborar com a implementação de ditaduras. Há poucas décadas tentaram mudar o regime brasileiro e de outros países da América Latina. Foram derrotados!".
Foro de São Paulo
Bolsonaro acrescentou que o Brasil está trabalhando com os Estados Unidos para que a "a democracia seja restabelecida na Venezuela, mas também nos empenhamos duramente para que outros países da América do Sul não experimentem esse nefasto regime".
"O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido".

Economia

Bolsonaro defendeu a abertura da economia. Destacou o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, alcançado em seu governo. Prometeu ainda novos acordos "nos próximos meses".
Além disso, falou sobre a adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
"Não pode haver liberdade política sem que haja também liberdade econômica. E vice-versa. O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil."
Amazônia
Bolsonaro defendeu a soberania do Brasil sobre a Amazônia. Reforçou que a Amazônia não é um "patrimônio da humanidade" e tampouco "o pulmão do mundo". Criticou ainda o que chamou de "os ataques sensacionalistas" de "grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio".
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram um aumento expressivo no número de incêndios florestais neste ano no Brasil, na comparação com igual período do ano passado. Após a divulgação dos números, Bolsonaro demitiu o então diretor-geral do órgão, Ricardo Galvão.
"Em primeiro lugar, meu governo tem um compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo."
"Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas. Vale ressaltar que existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência."
"Problemas, qualquer país os tem. Contudo, os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico."
Congresso derruba 18 vetos da Lei de Abuso de Autoridade

Após decisão do Congresso Nacional, a Lei de Abuso de Autoridade voltará a ter 10 artigos vetados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). Foram mantidos os vetos a 9 artigos. No total, foram derrubados  derrubados 18 pontos vetados - um artigo pode ter mais de um ponto vetado.

A nova versão da lei seguirá para promulgação do presidente, que está nos EUA para participar da Assembleia Geral da ONU. Se o presidente não promulgar no prazo de 48 horas, a tarefa caberá ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Saiba quais artigos voltarão a valer e quais foram definitivamente rejeitados na Lei de Abuso de Autoridade.

Os Pontos vetados por Bolsonaro

- Punição de 1 a 4 anos de detenção, e multa, para quem decretar medida de privação da liberdade em desacordo com as hipóteses legais
- Pena de detenção de 1 a 4 anos, e multa, para quem obrigar o preso a produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
- Pena de um a quatro anos de detenção, e multa, para quem prosseguir com interrogatório de pessoa que decidiu exercer o direito de silêncio ou de quem tenha optado por ser
assistido por advogado ou defensor público, mas esteja sem este presente
- Pena de seis meses a dois anos de detenção, e multa, para quem deixar de se identificar ou se identificar falsamente na hora de prender alguém
- Pena de seis meses a dois anos, e multa, para quem impedir encontro do preso com seu advogado
- Pena de um a quatro anos de detenção, e multa, a quem for responsável por persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente
- Cria pena de seis meses a dois anos de detenção, e multa, a quem negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso qualquer procedimento investigatório de infração penal,
civil ou administrativa, exceto peças cujo sigilo seria imprescindível
- Pena de seis meses a dois anos, e multa, para o responsável pelas investigações que antecipar, inclusive por rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as
investigações
- Pena de detenção de três meses a um ano, e multa, para quem violar direito ou prerrogativa de advogado
- Artigo que especifica regras de direito penal de forma redundante, repetindo o que já vale para outros crimes. Diz, por exemplo, que os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública incondicionada

Mantidos
- Proibição de que quem cometa crimes exerça funções de natureza policial ou militar no local em que residir ou trabalhar a vítima
- Pena de detenção de 1 a 4 anos, e multa, para quem prender alguém sem que haja flagrante nem ordem escrita de autoridade judicial
- Pena de seis meses a dois anos, e multa, para quem fotografar ou filmar um preso ou investigado, sem seu consentimento ou com autorização obtida mediante constrangimento
ilegal, com o intuito de expor a pessoa a vexame ou execração pública
- Pena de seis meses a dois anos de detenção, e multa, para quem submeter o preso ao uso de algemas quando não houver resistência à prisão, ameaça de fuga ou risco à integridade física do preso
- Pena de um a quatro anos de detenção, e multa, para quem "executa mandado de busca e apreensão (...) mobilizando veículos, pessoal ou armamento de forma ostensiva e desproporcional, ou de qualquer modo extrapolando os limites da autorização judicial, para expor o investigado a situação de vexame"
- Pena de seis meses a dois anos de detenção, e multa, para quem instigar alguém a praticar infração penal para depois capturá-la em flagrante delito
- Pena de seis meses a dois anos de detenção, e multa, a quem omitir dado ou informação sobre fato juridicamente relevante e não sigiloso
- Cria pena de três a seis meses de detenção, e multa, a quem deixar de corrigir, de ofício ou mediante provocação, com competência para fazê-lo, erro relevante que sabe existir em processo ou procedimento
- Cria pena de três meses a um ano, e multa, a quem coibir, dificultar ou impedir, por qualquer meio, sem justa causa, a reunião, a associação ou o agrupamento pacífico de pessoas para fim legítimo.