ROBERTO MONTEIRO PINHO
A DERROTA DA ESQUERDA: Milei suplantou a máquina comunista da Argentina e passou a ser
referência política na América do Sul
O
ultradireitista Javier Milei surgiu no cenário eleitoral de 2023 para disputar
a presidência da Argentina, sem um histórico da franquia sucessória da direita
que há 40 anos reveza o poder da administração pública. São atores, que se
mantiveram hospedes da Casa Rosada, onde são regidas as ordens que controlam o
legislativo, judiciário e comandam as ações partidárias.
Nem
tudo era perfeito. O bólido Milei surpreendentemente colidiu frontal com uma
cultura fascista, comunista, sedimentada a décadas na política Argentina. A
situação tinha o mapa político-eleitoral do Poder em todos seus ângulos, e carregou
para o segundo turno, a vantagem sobre Javier Milei. Eram “cartas marcadas”,
que se dissiparam.
Por
sua vez, não é difícil, até mesmo para o leigo, entender o fracasso da histórica
máquina peronista. A flama autoritária que marcou a cenário das táticas eleitorais por décadas pereceu, pecando ao riste de sua soberba. Era tão somente a
continuidade do sistema, sem programa e solução economico-social. Seus líderes, subestimaram e ironizaram, um opositor que
chegou à
presidência da nação com 57% dos votos - mais que qualquer outro presidente da
democracia nos últimos 40 anos na Argentina.
A onda jovem na
campanha
Estrategicamente,
Milei teve que conviver ao longo da campanha, com a realidade de uma
Argentina que embora navegue em “aguas turvas”, tem sua classe média muito
forte. Ele soube catalisar a atenção da massa de uma população jovem, entre 16
e 30 anos que representam cerca de 38%, quase 40% dos aptos a votar. Jovens sem
perspectiva de futuro, empregos precarizados, todos há anos, invisíveis aos
olhos dos governos. Um modelo arcaico, fascista, soberbo, com ranço de centro
esquerda.
Um abismo entre jovens
e governo, até que o ultradireitista Milei assumisse o papel em defesa de um
programa de inclusão, fazendo da bandeira, o seu plano de combate, que derrotou
a mística peronista. Manejando com dicção convincente, falando na direção dos
jovens inquietos.
Apostando no andar de
cima, no primeiro turno, Massa alcançou 36,68% dos votos, contra 29,98% de
Milei. Os dois candidatos, não atingiram o mínimo de 45%, e se reencontraram no
no segundo turno, em 19 de novembro. Já o candidato de 53 anos, o
representante da coalizão Liberdade Avança, foi um pouco mais votado durante as
primárias argentinas, em agosto, com 30,02% dos votos válidos.
Crescimento
político meteórico
Natural de Buenos Aires,
Javier Gerardo Milei é formado em Economia pela Universidade de Belgrano e
ficou conhecido por apresentar posições alinhadas com a extrema direita. Entre
os seus comentários, são frontais críticas ao bloco Mercosul, considerado por
Milei como um “fracasso comercial”. Em entrevista ao jornal britânico The
Economist, o autodefinido “anarcocapitalista”, pouco incisivo, não fez comentários por
Donald Trump, mas aposta “num alinhamento com todos que estão dispostos a lutar
contra o socialismo a nível internacional”.
Neste momento, o resultado
eleitoral argentino, ligou o sinal de alerta no governo brasileiro e apreensão sobre o futuro econômico entre
o Brasil e Argentina. Um impasse que coloca em pauta os rumos políticos do Mercosul, minando
as pretensões do protagonismo encampado e perseguido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
enquanto MIlei vem afirmando publicamente que não tem o menor interesse no Mercosul.
O que se espera do novo governo?
No Parlamento argentino mesmo com os apoios que recebeu do Juntos Por El Cambio, terá
uma jornada difícil. A seu favor, soma-se o prestigio do resultado com mais de
12% de diferença para o segundo colocado e setores da economia e da sociedade,
que desejam de fato, encontrar uma saída para a crise que assola nação.
Romper o
sistema eleitoral argentino que há 40 acampa no cenário político, não será uma missão
simples. A tarefa de articular e mostrar capacidade de negociação com o resto
dos dirigentes políticos, poderá se traduzir em um avanço, que é necessário
para suplantar as dificuldades expostas em todos setores da vida do país. A
formação do seu gabinete, superar a pressão externa, câmbio, e dar seguimento
as promessas de campanha, serão essenciais para atingir o mínimo de estabilidade
administrativa, e vencer o tsunami de problemas que está a sua frente.
A promessa
de reduzir todos os ministérios a oito, tendo que unificar os ministérios da
Saúde, Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social, para enxugar o Estado. As
questões quanto a dolarização, a redução dos gastos e privilégios da política. Um conjunto de medidas, que soa
bem aos olhos da população, mas é uma área complexa que deve ser muito bem
planejada, e devidamente organizada com a presença do Parlamento e figuras do
seu entorno político. A liberação da venda de órgãos públicos. O fechamento do
Banco Central, o fim do ministério da Mulher, privatização das empresas
públicas, livre importação de armas e eliminação das leis que permitem o aborto
e o casamento igualitário, são questões traumáticas a serem enfrentadas.
A relação
com o Brasil?
Existe de fato uma proximidade entre Milei, com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo, já convidados para à sua posse. No entanto ainda não convidaram formalmente o presidente do Brasil. E quando perguntado, Javier Milei, responde que não pretende estabelecer relações comerciais com o Brasil. O que pesa, e a presença de Lula neste cenário, isso mais atrapalha do que ajuda. O motivo se prende as impensadas declarações do presidente, durante a campanha do argentino, e os rumores de envio de subsídios para patrocinar o candidato derrotado, evidente, o de sua preferência Sergio Massa.
O mais grave é a divergência ideológica, o que se torna um abismo
entre os dois. Assuntos que a diplomacia, terá que se esforçar de forma imensurável para contornar.
Mas nada que estabilizado, isso não possa cair por terra, se por exemplo: Lula disparar seu mau
humor na direção errada. (Imagem: Arquivo).
ROBERTO MONTEIRO PINHO - Jornalista,
escritor, CEO em Jornalismo Investigativo, ambientalista, presidente da
Associação Nacional e Internacional de Imprensa – ANI, Associação
Emancipacionista da Região da Barra da Tijuca - AEBAT. Membro da ALB -
Federação das Academias de Letras do Brasil, Técnico em Arbitragem. (Lei
9307/1996). Ex - Dirigente da Central
Geral dos Trabalhadores – CGT, Observador para Assuntos sobre Liberdade de
Imprensa no Parlamento Europeu. Editor
Executivo da Revista PeopleNews. Escreve para Portais, sites, titular de blog
de notícias Nacionais e Internacionais, blog Análise & Política. Autor da
obra: Justiça Trabalhista do Brasil (Edit. Topbooks), e dos livros: “Os
inimigos do Poder”, e “Manual da Emancipação”.
"Esta publicação opinativa encontra-se em conformidade com a LGPD, lei nº
13.709, 14 de agosto de 2018."
Contato: robertompinho@yahoo.com.br
@robertomonteiropinhooficial