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quarta-feira, 22 de novembro de 2023

 

ROBERTO MONTEIRO PINHO

A DERROTA DA ESQUERDA: Milei suplantou a máquina comunista da Argentina e passou a ser referência política na América do Sul

O ultradireitista Javier Milei surgiu no cenário eleitoral de 2023 para disputar a presidência da Argentina, sem um histórico da franquia sucessória da direita que há 40 anos reveza o poder da administração pública. São atores, que se mantiveram hospedes da Casa Rosada, onde são regidas as ordens que controlam o legislativo, judiciário e comandam as ações partidárias.

Nem tudo era perfeito. O bólido Milei surpreendentemente colidiu frontal com uma cultura fascista, comunista, sedimentada a décadas na política Argentina. A situação tinha o mapa político-eleitoral do Poder em todos seus ângulos, e carregou para o segundo turno, a vantagem sobre Javier Milei. Eram “cartas marcadas”, que se dissiparam.

Por sua vez, não é difícil, até mesmo para o leigo, entender o fracasso da histórica máquina peronista. A flama autoritária que marcou a cenário das táticas eleitorais por décadas pereceu, pecando ao riste de sua soberba. Era tão somente a continuidade do sistema, sem programa e solução economico-social. Seus líderes, subestimaram e ironizaram, um opositor que chegou à presidência da nação com 57% dos votos - mais que qualquer outro presidente da democracia nos últimos 40 anos na Argentina. 

A onda jovem na campanha

Estrategicamente, Milei teve que conviver ao longo da campanha, com a realidade de uma Argentina que embora navegue em “aguas turvas”, tem sua classe média muito forte. Ele soube catalisar a atenção da massa de uma população jovem, entre 16 e 30 anos que representam cerca de 38%, quase 40% dos aptos a votar. Jovens sem perspectiva de futuro, empregos precarizados, todos há anos, invisíveis aos olhos dos governos. Um modelo arcaico, fascista, soberbo, com ranço de centro esquerda.

Um abismo entre jovens e governo, até que o ultradireitista Milei assumisse o papel em defesa de um programa de inclusão, fazendo da bandeira, o seu plano de combate, que derrotou a mística peronista. Manejando com dicção convincente, falando na direção dos jovens inquietos.

Apostando no andar de cima, no primeiro turno, Massa alcançou 36,68% dos votos, contra 29,98% de Milei. Os dois candidatos, não atingiram o mínimo de 45%, e se reencontraram no no segundo turno, em 19 de novembro. Já o candidato de 53 anos, o representante da coalizão Liberdade Avança, foi um pouco mais votado durante as primárias argentinas, em agosto, com 30,02% dos votos válidos.

Crescimento político meteórico

Natural de Buenos Aires, Javier Gerardo Milei é formado em Economia pela Universidade de Belgrano e ficou conhecido por apresentar posições alinhadas com a extrema direita. Entre os seus comentários, são frontais críticas ao bloco Mercosul, considerado por Milei como um “fracasso comercial”. Em entrevista ao jornal britânico The Economist, o autodefinido “anarcocapitalista”, pouco incisivo, não fez comentários por Donald Trump, mas aposta “num alinhamento com todos que estão dispostos a lutar contra o socialismo a nível internacional”. 

Neste momento, o resultado eleitoral argentino, ligou o sinal de alerta no governo brasileiro e apreensão sobre o futuro econômico entre o Brasil e Argentina. Um impasse que coloca em pauta os rumos políticos do Mercosul, minando as pretensões do protagonismo encampado e perseguido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto MIlei vem afirmando publicamente que não tem o menor interesse no Mercosul.

O que se espera do novo governo?

No Parlamento argentino mesmo com os apoios que recebeu do Juntos Por El Cambio, terá uma jornada difícil. A seu favor, soma-se o prestigio do resultado com mais de 12% de diferença para o segundo colocado e setores da economia e da sociedade, que desejam de fato, encontrar uma saída para a crise que assola nação.

Romper o sistema eleitoral argentino que há 40 acampa no cenário político, não será uma missão simples. A tarefa de articular e mostrar capacidade de negociação com o resto dos dirigentes políticos, poderá se traduzir em um avanço, que é necessário para suplantar as dificuldades expostas em todos setores da vida do país. A formação do seu gabinete, superar a pressão externa, câmbio, e dar seguimento as promessas de campanha, serão essenciais para atingir o mínimo de estabilidade administrativa, e vencer o tsunami de problemas que está a sua frente.

A promessa de reduzir todos os ministérios a oito, tendo que unificar os ministérios da Saúde, Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social, para enxugar o Estado. As questões quanto a dolarização, a redução dos gastos e privilégios da política. Um conjunto de medidas, que soa bem aos olhos da população, mas é uma área complexa que deve ser muito bem planejada, e devidamente organizada com a presença do Parlamento e figuras do seu entorno político. A liberação da venda de órgãos públicos. O fechamento do Banco Central, o fim do ministério da Mulher, privatização das empresas públicas, livre importação de armas e eliminação das leis que permitem o aborto e o casamento igualitário, são questões traumáticas a serem enfrentadas.

A relação com o Brasil?

Existe de fato uma proximidade entre Milei, com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo, já convidados para à sua posse. No entanto ainda não convidaram formalmente o presidente do Brasil. E quando perguntado, Javier Milei, responde que não pretende estabelecer relações comerciais com o Brasil. O que pesa, e a presença de Lula neste cenário, isso mais atrapalha do que ajuda. O motivo se prende as impensadas declarações do presidente, durante a campanha do argentino, e os rumores de envio de subsídios para patrocinar o candidato derrotado, evidente, o de sua preferência Sergio Massa. 

O mais grave é a divergência ideológica, o que se torna um abismo entre os dois. Assuntos que a diplomacia, terá que se esforçar de forma imensurável para contornar. Mas nada que estabilizado, isso não possa cair por terra, se por exemplo: Lula disparar seu mau humor na direção errada. (Imagem: Arquivo).

ROBERTO MONTEIRO PINHO - Jornalista, escritor, CEO em Jornalismo Investigativo, ambientalista, presidente da Associação Nacional e Internacional de Imprensa – ANI, Associação Emancipacionista da Região da Barra da Tijuca - AEBAT. Membro da ALB - Federação das Academias de Letras do Brasil, Técnico em Arbitragem. (Lei 9307/1996).  Ex - Dirigente da Central Geral dos Trabalhadores – CGT, Observador para Assuntos sobre Liberdade de Imprensa no Parlamento Europeu.  Editor Executivo da Revista PeopleNews. Escreve para Portais, sites, titular de blog de notícias Nacionais e Internacionais, blog Análise & Política. Autor da obra: Justiça Trabalhista do Brasil (Edit. Topbooks), e dos livros: “Os inimigos do Poder”, e “Manual da Emancipação”.

"Esta publicação opinativa encontra-se em conformidade com a LGPD, lei nº 13.709, 14 de agosto de 2018."

 

Contato: robertompinho@yahoo.com.br

@robertomonteiropinhooficial