DARCY-BRIZOLA. O PRIMEIRO UM GÊNIO, O
SEGUNDO O POLÍTICO. O SOCIALISMO MORENO EMPOLGOU MILHÕES. VEIO O PT COM LULA E
GOLBERY, E O REFUGO TRABALHISTA DE IVETE VARGAS E O PTB. A REABERTURA FOI PROGRAMADA,
DIAGRAMADA E TEXTURIZADA PELA EXTREMA DIREITA.
ROBERTO
MONTEIRO PINHO
O
Partido dos Trabalhadores (PT) não nasceu apenas do sindicalismo, e sequer da
esquerda brasileira. O mais próximo desses setores estava o ex-governador
Leonel de Moura Brizola.
A
perspectiva nascia ainda no exílio, onde tive a oportunidade de conhecê-lo
pessoalmente, momento em que se associou a Internacional Socialista, em evento
histórico em Portugal-Lisboa do Encontro dos Trabalhistas no Exílio em 1979.
Foi
exatamente neste episódio que deu os primeiros acórdãos dessa sinfonia
populista do socialismo moreno protagonizada pelo antropólogo e professor Darcy
Ribeiro
Darcy foi sem dúvida um gênio, socialista na
concepção da palavra. Assim o intelectual,
e o hábil político, Brizola, deram
as mãos num projeto onde existia a possibilidade de se transformar no maior
poder de arregimentação de socialistas, trabalhistas da linha ideológica de
Fernando Ferrari, cuja história vale ser lembrada num texto a parte.
Nascia neste momento o projeto dos “Brizolões”
e da construção de uma edificação socialista moderada aqui no Brasil. A perda
de nomes essenciais a exemplo do próprio Darcy, aos poucos arrefeceu essa flama
ideológica.
Ao ruir, o grupo brizolista se dissipou por
várias siglas. Muitos se achavam líderes e acabaram no ostracismo de sua própria
essência.
Existia em 1978 uma nebulosa quanto à volta
do bipartidarismo, a abertura política, quando se deu início as tratativas
reunindo lideranças revolucionárias de Miguel Arraes, Francisco Julião e
Brizola. Teria sido uma frente, bem desenhada, mas que na pratica, nunca
alienou Julião, e Arraes. 1985 era outra conversa.
O projeto trabalhista e do socialismo, moreno
ganhou força, até que a cisão, (apesar de nunca existir coesão e entendimento)
entre a ex-deputada do PTB Ivete Vargas e Leonel de Moura Brizola, era “água e
o vinho”. Nessa tempera que jamais se ajustou ao grau de solidez capaz de ser
tão forte quanto à própria proposta, se materializou em duas formas.
Vários trabalhistas se empenharam para que ocorresse a fusão entre os grupos (PDT-PTB). No entanto eu mesmo, pela própria experiência, no empenho de tornar realidade essa fusão, sentia que estava "nadando contra a maré." Jamais em tempo algum isso teria sido possível.
Brizola foi propositalmente isolado da sigla
petebista, e o arquiteto da ditadura general Golbery do Couto Silva, deu carta
branca a Ivete Vargas para ter a sigla petebista sob sua titularidade. A
divisão dos trabalhistas, não parecia ser tão conseqüente politicamente, mas
serviu para desempactar o socialismo moreno que crescia velozmente no
eleitorado de baixa renda.
Surgia neste espaço, (diria lacuna), Luiz
Inácio Lula da Silva. E nascia o Partido dos Trabalhadores, sigla que se tornou
uma espécie de rota de fuga, para os que nunca aceitaram o PTB e menos ainda a
esquerda dos socialistas Julião e Arraes.
Se por um lado Brizola e Ivete se
distanciaram, Golbery não ficou apenas com o PTB fisiológico (assim que ficou
conhecido), onde figuras repugnantes a exemplo de Roberto Jefferson, se tornaria
seu herdeiro e cacique.
O PT não decolava, Lula chegaria a deputado
federal por São Paulo, e artistas e algumas figuras da sociedade paulista como
Eduardo e Marta Suplicy, assumiram o papel, de representar uma célula da
elite que deu ao PT, a chave para ser o partido que levaria no futuro Lula a
mais alta patente política de presidente da República do Brasil.
Mas para isso se descompôs na essência da sua
personagem operária, foi compor com figuras das mais cruéis da política brasileira
- o maranhense José Sarney e o baiano Antonio Carlos Magalhães.
Brizola não saiu do Rio de Janeiro, mas criou
o Partido Democrático Brasileiro - PDT em resposta a perda da sigla do PTB.
Neste varejo incorporou fisiológicos e
carreiristas oportunistas, que mais a frente, abandonariam o partido.
Quanto a abertura política, essa foi tramada,
diagramada e texturizada pela extrema direita.
E com isso Brizola na sua pretensão de ser
presidente, jamais teve a campanha alavancada e até diria não seria, tamanha a
divisão da chamada "esquerda ampla", rachada por Luiz Inácio Lula da
Silva o "sapo barbudo", que Brizola assim se referia.